quinta-feira, julho 8

Até que Ponto as Redes Sociais nos Fazem Bem ou Mal???

Algumas coisas me espantam no Facebook. Uma delas é a forma como as pessoas expõem sua intimidade. Você subiria num caixote na Avenida Paulista, ligaria um megafone e berraria seus sentimentos a quem quisesse ouvir??? Coisas do tipo: “Ei, todo mundo aí. Saibam que me separei daquele mequetrefe. Espiem minhas fotos. Estou linda, feliz e muito bem acompanhada. E você, mequetrefe, principalmente você, saiba disso”.

Seria um tanto bizarro. No Facebook, porém, as pessoas fazem isso o tempo todo. Outro dia um rapaz postou as fotos da cerimônia de seu segundo casamento. Fiquei constrangida só de imaginar o que a ex-mulher dele (que faz parte da mesma rede de amigos) sentiria ao ver aquilo. Até onde sei, eles tiveram uma separação conturbada. O que essa moça sentiu ao abrir o Facebook no trabalho e dar de cara com as fotos da filha dela, vestida de dama de honra, ao lado da noiva??? E o que ela teria sentido ao ler os tantos comentários dos muy amigos???

Antigamente era possível escapar dessas saias-justas. Bastava o rapaz não convidar a ex para o casamento. E a ex não fazer perguntas aos conhecidos, não esticar o assunto. Hoje é impossível. Em tempos de exposição total, as regras da discrição e da boa educação andam meio esquecidas.

Ah, mas não deu outra, um ou dois dias depois veio o revide. Todos nós (e principalmente o ex) vimos como a moça parece feliz com o novo companheiro. Lá estava ela, namorando na praia, ao lado da mesma filhinha.

O Facebook nos obriga a ver tudo (mesmo que não estejamos preparados para isso) e a fingir que aceitamos tudo. Não consigo lidar bem com tanta exposição. Estou no Facebook, mas sou uma usuária que tenho a minha turma e só falo com eles, brinco de FarmVille e outros jogos, adoro mandar presentes e cutucadas mas só, não abro a minha vida lá dentro de jeito nenhum. Fico espantada com a forma como as pessoas revelam tanto de si. Contam tudo a pessoas que sequer viram pessoalmente alguma vez.

Caem na armadilha de imaginar que estão entre amigos. Parecem esquecer que a maioria das redes é formada por amigos dos amigos dos amigos. Faça um teste: para quantos daqueles 300 amigos você poderia ligar se estivesse em apuros??? Quantos iriam encontrá-lo na Marginal Tietê numa noite de chuva para ajudar a trocar um pneu??? Por exemplo.

Acho que o Facebook nos obriga a um tipo de exposição que pode fazer mal. Mas essa mesma exposição também pode nos fazer bem. Revelar inseguranças, medos, dividir momentos difíceis com pessoas conhecidas ou desconhecidas pode ajudar a aliviar o peso dos nossos problemas. Não sou a única a enxergar um caráter terapêutico no Facebook, no Twitter, no Orkut, ou nos blogs.

O senso comum nos ensina que dividir nossos problemas com os outros só pode fazer bem. Os psicólogos têm razões mais científicas para recomendar essa prática. O psicólogo Julio Peres explica que, quando uma pessoa sofre um trauma, ela se sente covarde em relação ao evento que o produziu. Quem sofre um grave acidente de trânsito, resiste a entrar em um carro novamente. Quem é traído pelo melhor amigo resiste a criar laços duradouros. “Quem passa pela dor, costuma ficar em silêncio”, diz Peres. “E o silêncio potencializa o trauma”.
(Concordo plenamente).

Expressar o sentimento é fundamental para a superação. Falar, contar e recontar a história ajuda o sofredor a amenizar a ansiedade e substitui-la por coragem. Quando a pessoa conta a história pela primeira vez, a narrativa é toda carregada das sensações pesadas que ela sofreu. Conforme conta e reconta, a carga emocional vai sendo amenizada.

Quando contamos uma história que aconteceu com a gente, devemos contá-la tão bem quanto possível. É muito importante contá-la a quem possa ouvir sem fazer julgamentos.
O Facebook, o Twitter, e os blogs podem ajudar nesse processo. São ferramentas de comunicação instantânea. Aquele sentimento que mexe com você (e que você mal teve tempo de tentar digeri-lo e entendê-lo) pode ser expresso e dividido com o mundo. E esse sentimento vai tocar os leitores, gerar novos sentimentos e produzir uma cascata de respostas (muitas vezes inesperadas), toscas ou encorajadoras.

Por um lado, isso é bom. Por outro, é ruim. Nas redes sociais nossos lamentos, infelizmente, não são ouvidos por orelhas desprovidas de julgamento. Os leitores reagem a nossas mensagens de acordo com suas crenças e preconceitos. Quem se expõe na internet, portanto, precisa estar preparado para ouvir de tudo. Isso nem sempre faz bem.

Quem sofre quer falar e ser entendido. Um amigo que apenas escuta ajuda mais do que quem dá muitos palpites e contribui para aumentar a culpa ou a angústia.

Não acredito que as redes sociais possam ocupar o lugar da psicoterapia. Nada substitui a oportunidade de se abrir com um profissional que foi treinado para ouvir sem fazer julgamentos.
E você??? Acha que o Facebook, o Twitter ou ainda o Orkut são terapias??? Como você usa essa e outras redes sociais???

Fonte de pesquisa: Revista Época.Globo e Lulucha

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