Síndrome de avestruz
Ficar intimidada diante de uma plateia — e seguir adiante? Normal. Mas quando a timidez faz com que você empaque feito um cavalo pode ser sinal de uma doença: fobia social
Você foi convidada para ministrar uma palestra que vai trazer reconhecimento profissional. Só de pensar em encarar uma plateia, no entanto, as mãos suam, o coração acelera e os músculos se contraem. Acuada, você arruma uma desculpa e recusa o convite. Você pode confundir esse cenário — que se repete em festas e demais eventos — com aquela timidez do jardim de infância. Mas em alguns casos trata-se de fobia social, condição causada pelo intenso medo de ser criticada e rejeitada. Enquanto o tímido supera o incômodo ao precisar se expor de alguma maneira, quem tem fobia social simplesmente trava. “Timidez é um fator psicológico, mas fobia social é doença”, afirma o psicólogo Ruy Miranda.
A raiz do problema é bem anterior ao trauma do primeiro dia de aula na escola. Nosso cérebro se desenvolveu para ser sensível a como as outras pessoas nos veem
Como resultado, o medo de ser rejeitada é muito comum. Ao menos 90% das pessoas já experimentaram um grau de ansiedade social em algum momento, diz a assistente social Erika É normal se sentir ansiosa num primeiro encontro, numa palestra ou numa importante reunião de negócios. O problema ocorre quando o mal-estar se estende para interações básicas como conversar no elevador, falar ao telefone e comer em restaurantes. A estimativa é que os transtornos de ansiedade atinjam 23% da população mundial, sendo que a fobia social está no topo dessa lista, abrangendo 13% das pessoas.
A prevalência da doença é maior entre as mulheres. Em um grupo de dez pessoas com fobia, devemos encontrar seis mulheres e quatro homens. Embora a ciência ainda não explique por que o sexo feminino sofre mais com a condição, um dos prováveis motivos é a educação mais repressora que recebemos. Estudos mostram que o transtorno social costuma aparecer no início da adolescência e piora por volta dos 19 anos. Na maioria dos casos, os fóbicos já apresentam alguns traços na infância que indicam a doença.
A origem do mundo
A fobia social pode fazer você se sentir como num Big Brother: todas as suas ações são constantemente observadas por um olho crítico. “Os especialistas ainda não têm certeza da causa, mas imaginam que ela esteja relacionada a um sistema hipervigilante do medo no cérebro”, diz um psiquiatra. Você poderia imaginar a amígdala — parte do cérebro localizada na região das têmporas — como um cão de guarda neural; ela se atiça quando encaramos uma situação não familiar. Nas pessoas com ansiedade social, entretanto, age mais como um rottweiler superzeloso, que sente o perigo mesmo em cenários seguros.
Uma vez que a amígdala começa a se aborrecer, ela estimula seu corpo a ficar no modo lutar-ou-fugir, que pode provocar sintomas físicos como transpiração, tontura e aceleração do batimento cardíaco. A pior parte: seu cérebro sinaliza qualquer coisa que você estiver fazendo (apresentando-se numa festa ou apanhando do PowerPoint no trabalho) como um evento de alerta vermelho — significando que a ansiedade novamente se manifestará na situação semelhante seguinte.
Foi a partir da análise de neuroimagens que pesquisadores do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto descobriram que, dos 2 600 universitários avaliados, 286 (equivalente a 11%) eram portadores de fobia social, mas apenas dois deles sabiam disso. Os demais se julgavam tímidos. Os alunos foram submetidos a um teste que estimulava a ansiedade com a notícia de que deveriam gravar um depoimento. O estudo mostrou que, quanto maior a ansiedade, maior a amígdala, e, quanto mais a pessoa se avaliava negativamente, menor era o cíngulo anterior, área do cérebro relacionada ao julgamento.
Stress zero
Não deixe o desespero bater à sua porta. Enfrente o desafio de cabeça erguida
ANTES DE MINISTRAR UMA PALESTRA, PRATIQUE EM CASA.
O preparo gera segurança e o resultado é automático. Além de preparar tópicos de conversa, ele sugere que você coloque seu marido, sobrinhos e amigos para fazer as vezes de plateia. No dia da palestra, chegue mais cedo para interagir com convidados e funcionários do local. Antes de falar ao microfone, olhe no espelho e se enalteça em voz alta. Diga: “Sou importante e vou dar a minha contribuição ao evento”.
Quem sabe assim, você consegue tirar a sua cabeça da terra e mostrar ao mundo a que veio.
Fonte de pesquisa: Women's & Health e Lulucha
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