O que há na química do organismo da mulher que a faça merecer tratamento diferenciado?O alcoolismo sempre foi considerado uma doença de homem e os métodos de tratamento foram projetados para eles. Só recentemente as pesquisas revelaram que as mulheres são diferentes nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
O estômago das mulheres tem menor quantidade de uma enzima, chamada álcool desidrogenase, que quebra o efeito da bebida. Portanto, absorve uma parcela maior do álcool ingerido. Isso, combinado ao peso e ao mais baixo índice de água no corpo, em comparação aos homens, significa que nelas os níveis de álcool no sangue, ao tomarem a mesma dose da bebida, atingem patamares mais elevados.
As mulheres ficam mais rapidamente embriagadas. Como costumo dizer, o alcoolismo em mulheres é como 'locomotiva em alta velocidade numa ponte que acaba no meio'. O estômago das mulheres tem menos quantidade de uma enzima que quebra o efeito da bebida Como assim?Bem, além de desenvolverem alcoolismo mais rápido que os homens, as mulheres têm uma taxa mais elevada de mortalidade que eles. E, se ficarem grávidas, podem prejudicar seus filhos de forma permanente.
Aproximadamente 5% das mulheres nos Estados Unidos sofrem de dependência de álcool durante um ano. Estima-se que 8% das americanas vão passar por um período de dependência de álcool em algum período da vida. Pelas informações que tenho, a taxa no Brasil é similar. O problema é que a maioria das mulheres alcoólatras não busca o socorro de que precisa. Há alguma predisposição genética?Sim, como nos homens. Mas não é uma doença genética. Sejam quais forem seus genes, se você nunca tomar uma bebida, nunca contrairá a doença.
Há também os fatores ambientais e psicológicos que devem ser levados em conta. Os fatores de risco incluem histórico familiar, em especial, de abuso sexual na infância. Também transtornos de depressão e ansiedade, stress pós-traumático, exposição à cultura da bebida pesada, além de mudanças na vida, tais como sair de casa, iniciar um trabalho não-tradicional, casamento, principalmente com um homem que bebe muito, divórcio ou mágoas de amor. É difícil aceitar na sociedade alcoolismo em uma mãe, irmã ou na esposa?O estigma social é poderoso. Mesmo as famílias costumam negar a existência do alcoolismo pela mesma razão. Pensam defender a parente, dizendo que talvez ela esteja deprimida. Só que, infelizmente, os dois problemas costumam caminhar juntos.
O complicador é que mulheres alcoólatras freqüentemente negam seus problemas. A melhor maneira de identificar o alcoolismo é estar atento aos sintomas dos pacientes em todas as práticas médicas. Aqueles em que se verifica uma tendência devem ser inquiridos sobre sua forma de beber e sobre sintomas relacionados. Por exemplo, algumas mulheres alcoólatras (mas não todas) terão apagões (perdas de memória). Não conseguem lembrar como foram parar na cama depois de beber, ou coisas que disseram ou fizeram. ''Elas pensam que o álcool pode ajudá-las a ter sexo melhor. Continuam a beber. Mas não são avisadas de que o álcool em excesso atua como fator depressivo''
É verdade que o álcool faz despertar mais facilmente o apetite sexual nas mulheres?Na verdade, é o contrário. E ainda interfere no alcance do orgasmo, dificultando-o. Pensam que o álcool pode ajudá-las a ter um sexo melhor. Continuam a beber. Daí, acham que seus problemas sexuais são coisa da cabeça delas ou do corpo. Em geral, não são alertadas de que o álcool em excesso atuará como fator depressivo sexualmente. Há ainda o problema de que a mulher que bebe muito é menos conscienciosa. Ela pode se sentir mais atraente, mas pode também ser imprudente nos riscos com o sexo, por exemplo não praticá-lo seguramente, com o uso de camisinha, e acabar contraindo uma doença sexualmente transmissível como Aids.
Como é o tratamento para mulheres?Nos Estados Unidos e na Europa, mulheres são tratadas por equipes médicas. Há os clínicos, freqüentemente os psiquiatras, assistentes sociais, psicólogos e conselheiros treinados. Tratamentos individuais, em grupo e familiares são adotados. Elas são também encorajadas a freqüentar os grupos de ajuda mútua, como o AA. Para ter uma idéia, cerca de um terço de seus membros nos Estados Unidos é de mulheres. Como disse, as mulheres aceitam rapidamente ajudar outras na mesma situação. E essa procura por ajudar é parte de sua própria recuperação. Tudo leva um tempo. Até porque ser alcoólatra não é como estar numa festa e não voltar para casa. É uma doença dolorosa.
Fonte de Pesquisa: G1.com
Um comentário:
Infelizmente tanto os homens, como as mulheres, estão bebendo cada vez mais. O alcoolismo já é considerada como um sério problema de saúde pública. Um abraço. Drauzio Milagres.
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