Na encosta coberta de grama, acima da margem do lago Tanganica, na Tanzânia, leste da África, dois chimpanzés machos descobrem um buraco na terra por onde marcha uma longa fileira de formigas. Eles param por um momento sob a chuva fina de uma manhã e acompanham o buraco - a entrada do formigueiro - para uma inspeção mais detalhada. Os chimpanzés, moradores do Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia, pegam vários galhos compridos e sentam-se junto a toca. Lentamente, cada um deles coloca um galho no buraco e observa como algumas formigas se amontoam sobre ele. Assim que veem que a metade de baixo do galho está lotada de insetos, eles o tiram da toca. Rapidamente, pegam as saborosas formigas e as colocam na boca.
Os chimpanzés aprendem a imitar seus semelhantes? Ou são condicionados a praticar alguns atos, como a maneira de comer uma banana, por exemplo? Do outro lado do continente, na floresta Tai, na Costa do Marfim, na África Ocidental, outros dois chimpanzés machos também encontraram um formigueiro. Eles acharam uma ferramenta apropriada - uma vareta curtinha, em vez de galhos compridos como os usados pelos chimpanzés de Gombe - e começam a enfiá-lo dentro do formigueiro para conseguir alguma comida. Depois que os insetos que guardavam a toca sobem pelas varetas, os chimpanzés as colocam entre os lábios e, sem usar as mãos, atraem as formigas para dentro de suas bocas.
Na mesma hora em que os chimpanzés degustam seu lanchinho matinal, dois outros rituais na hora da refeição estão sendo praticados por outros primatas (a ordem dos mamíferos que inclui os humanos, símios e macacos) longe dali. Em St. Louis, Missouri, duas famílias de seres humanos - uma descendente de asiáticos e a outra de europeus - sentam-se para jantar em mesas separadas em um restaurante chinês. As famílias pedem seus pratos favoritos de frango com molho picante de laranja. Quando a comida é servida, a família asiática começa a comê-la com os hashis, os famosos palitinhos japoneses, enquanto a outra família utiliza os garfos.
Como é possível usar tanto os palitinhos quanto os talheres, a preferência por um tipo de utensílio é simplesmente um reflexo das diferenças culturais entre elas. Não há nada de estranho nisso. Mas e quanto à diferença em relação às formas como os chimpanzés de Gombe e Tai "pescaram" as formigas? As preferências individuais também poderiam refletir as diferenças culturais? Como todos os chimpanzés são da mesma espécie, é improvável que as diferenças genéticas pudessem ser responsáveis pelas variações no comportamento. Assim, os métodos distintos para uma tarefa semelhante, e a captura, provavelmente são comportamentos aprendidos dentro dos grupos sociais de Gombe e Tai. Isso significa que o conhecimento pode ter sido passado de um chimpanzé para outro. Em outras palavras, os chimpanzés aparentemente estão exibindo um comportamento que poderia ser chamado de cultura.
Entretanto, os cientistas sociais há muito tempo sustentam que apenas os seres humanos são capazes de ter cultura. Eles estão errados? Os chimpanzés - e talvez até outros animais, como macacos, baleias e pássaros - também possuem uma forma de cultura? Em 2000, muitos cientistas acreditavam que sim. Mas outros insistiam que a cultura é um fenômeno puramente humano.
Os primatas não são os únicos animais em que os cientistas encontraram provas de disseminação cultural de comportamento. Os pesquisadores acreditam que a melhor evidência de cultura de um não-primata é encontrada nos pássaros canoros, que incluem o tordo, gaio, cambaxirra, tentilhão e outros pássaros comuns de quintal. Muitos estudos indicaram que esses animais aprendem suas melodias com parentes e vizinhos da mesma espécie. As canções dentro de uma espécie em particular mostram variações regionais semelhantes aos dialetos regionais (formas variantes da fala) comuns nas populações humanas. Além disso, em algumas espécies de pássaros, como o azulão, a natureza das canções muda gradativamente.
O ornitólogo (especialista em pássaro) Andre Dhondt, da Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque, nota que a variedade dessas músicas as tornam semelhantes à linguagem humana, em que novas palavras e acentos surgem e mudam constantemente. Além do mais, os biólogos consideram as canções uma cultura, pois representam comportamentos que são transmitidos através da aprendizagem e imitação em vez de serem determinados geneticamente.
Os bowerbirds, ou pássaros-arquitetos, grupo de 18 espécies de pássaros comuns da Austrália e Nova Guiné, dão mais provas de aprendizagem por imitação - e talvez até de ensinamento intencional por parte dos adultos. Os machos constroem ninhos elaborados para atraírem as fêmeas. A base é de grama, galhos e outras plantas, com paredes que formam um arco sobre a estrutura. Os machos decoram essas "casas" com vários objetos azuis ou verdes, como sementes, conchas, flores e botões. As evidências do papel cultural na construção dos ninhos surgem com as observações de machos jovens que visitam as casas de machos mais velhos no início do período de acasalamento. Os jovens passam bastante tempo observando enquanto os mais velhos cuidam da casa e exibem sua plumagem para as fêmeas. Grupos de machos jovens trabalham juntos para construírem "casas práticas", revezando-se para arrumar os galhos, geralmente sem o menor jeito e sucesso. De vez em quando, os machos mais velhos observam os jovens. Fonte de Pesquisa: HSW
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