terça-feira, março 3

Como Vivem os Pingüins?

  • No filme Happy Feet, o personagem principal “Mano” é um carismático e desengonçado pingüim-imperador que nasceu no interior do continente antártico. Ele vive um drama por ser diferente dos outros pingüins de sua espécie (ele não tem uma “música do amor” como os outros e “dança”, vejam só.). “Mano” passa o tempo tentando conquistar seu espaço e provar que, mesmo sem uma “música especial”, ele pode viver entre os outros pingüins.

Lembrando bem das imagens do filme percebemos que realmente todos os pingüins da espécie são muito iguais e praticamente não têm diferença nenhuma entre eles. Então, como casais e filhotes se reconhecem entre milhares de outros indivíduos? O som que eles emitem é a chave. Pode não ser um som muito agradável para nossos ouvidos (com exceção dos sons do filme obviamente), mas para eles significa a sobrevivência.

É através do som que os casais se reconhecem e se reencontram para reproduzir e também é assim que a mãe, chegando com comida depois de o pai ter ficado o inverno todo chocando o ovo, reconhece o som produzido pelo seu companheiro e dá comida para os dois: pai e filhote. O mundo destas aves é muito curioso e surpreendente, vamos tentar descobrir um pouco mais sobre eles?

Os pingüins são as aves que melhor se adaptaram à vida marinha e ao frio. Mesmo o pingüim-das-Galápagos que vive em ilhas tropicais precisa ter proteção contra o frio: isto porque durante o mergulho os eles podem perder calor para o ambiente (água gelada) e morreriam de frio se não fossem muito bem adaptados para enfrentá-lo. Eles acumulam uma camada de gordura logo abaixo da pele, que serve como isolante térmico (diminuindo a perda de calor para o ambiente externo) e também como fonte de energia quando elas ficam muito tempo sem se alimentar.

Além disto, essas aves conseguem manter entre as penas e seu corpo uma fina camada de ar que também isola termicamente seu corpo. Por isto suas penas são bem justapostas, ficam bem pertinho umas das outras e o pingüim tem penas menores e em maior quantidade do que as outras aves. Para impermeabilizar as penas os pingüins usam um óleo produzido por uma glândula muito desenvolvida (glândula uropigiana) que fica próxima da base da cauda. Com as penas impermeabilizadas, a água não passa e o corpo não molha quando o pingüim está na água, nem quando ele fica muito tempo exposto a nevascas e o corpo não resfria com facilidade. Além disso, as partes expostas como bicos e pés praticamente não apresentam vasos de transporte sanguíneo, evitando o resfriamento do sangue e a perda de calor por essas áreas.

Quem são os pingüins?Da ordem Sphenisciformes, família Spheniscidae todas as espécies de pingüins vivem no Hemisfério Sul. São aves marinhas não voadoras que não se deslocam muito bem em terra, mas têm uma agilidade impressionante na água. Estas aves têm as asas transformadas em aletas (que funcionam como verdadeiros “remos”), o corpo fusiforme (tente imaginar um submarino) e as patas palmadas (com membranas entre os dedos), características que fazem dos pingüins verdadeiros “campeões olímpicos” em natação e mergulho.

O pingüim-imperador – recordista em mergulho – pode permanecer em baixo da água por 22 minutos e atingir profundidades de até 630 metros, mas a maioria das espécies prefere mergulhos rápidos de até 5 minutos. Muitas espécies de pingüins chegam a ficar 75% de suas vidas no mar, se deslocando e se alimentando, saindo da água para se reproduzir ou descansar. Durante o período de migrações, os pingüins ficam em alto mar, mergulham, vem a superfície para respirar, bóiam para descansar e nadam bastante. Os pingüins vivem cerca de 15 a 20 anos e alguns poucos conseguem sobreviver além desta idade.

Quando pensamos em pingüins automaticamente somos remetidos à Antártica: um ambiente extremamente inóspito, coberto de muito gelo e neve, extremamente frio. Apesar desta imagem, curiosamente, das 17 espécies de pingüins que existem no mundo apenas seis se reproduzem no continente e/ou na península antártica: pingüim-imperador (Aptenodytes forsteri), pingüim-de-adélia (P. adeliae), pingüim-antártico (Pygoscelis antarctica), pingüim-papua (P. papua) e pingüim-de-testa-alaranjada (Eudyptes chrysolophus).

As outras espécies ocorrem mais para o norte e uma delas exclusivamente nas Ilhas Galápagos, bem próximo da linha do Equador (ou seja, num ambiente extremamente quente): é o pingüim-das-Galápagos (Spheniscus mendiculus). Nenhuma das espécies se reproduz no Hemisfério norte, ou seja, os pingüins são exclusivos do Hemisfério Sul, ocorrendo sempre abaixo da linha do Equador. Geralmente os pingüins vivem em ilhas ou em regiões remotas dos continentes. A maior das espécies é o pingüim imperador (Aptenodytes forstery) medindo até 112 cm de altura e pesando até 41 Kg. O menor, pingüim-pigmeu (Eudyptula minor), não passa dos 41 cm e pesa no máximo 1 Kg.

Existem pessoas especializadas que podem auxiliar estes animais, o melhor a fazer é não mexer com eles e chamar a polícia ambiental ou a defesa civil de sua cidade para pedir ajuda. Nunca coloque o pingüim no gelo. Até porque, quando eles chegam sujos de óleo, esses pingüins estão passando frio, já que seu regulador térmico está, digamos, com defeito.

Que pingüins visitam o Brasil? Durante o inverno no Brasil a todo instante, a mídia (TV e jornais) divulga a presença de pingüins no litoral brasileiro. Pingüins no Brasil, um país com clima tropical? Bom, como vimos anteriormente nem todos os pingüins vivem na Antártica, com muita neve e gelo no seu habitat, alguns até vivem em locais bem quentes, próximo do Equador. Durante o inverno no Hemisfério Sul os pingüins que vivem em regiões muito frias migram, procurando alimento em águas mais quentes. Durante o deslocamento seguindo as correntes marinhas os pingüins podem se perder do grupo maior (geralmente jovens que nasceram naquele ano ou então adultos cansados ou doentes) e vir parar no nosso litoral. .Centro de Recuperação de Animais Marinhos da UFRGPingüins sujos de óleo em recuperação no Rio Grande do Sul

O pingüim mais comumente encontrado no litoral brasileiro é o pingüim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) que se reproduz no litoral da Argentina e do Chile e nas Ilhas Falklands (perto destes dois países). Outras três espécies já foram registradas no litoral brasileiro, principalmente no Rio Grande do Sul: pingüim-rei - Aptenodytes patagonicus, pingüim-de-penacho-amarelo - Eudyptes chrysocome e o pingüim-de-testa-alaranjada – E. chrysolophus. A ocorrência destes animais no nosso litoral é rara e resulta em registros muito importantes cientificamente uma vez que podem ampliar a área de ocorrência destas espécies.

Os pingüins se alimentam de krill (um pequeno crustáceo antártico parecido com um camarão da família Euphausiidae), de lulas e de peixes capturados durante o mergulho. A alimentação pode variar de acordo com a área de ocorrência e com o tamanho das espécies. Por exemplo, os pingüins menores que vivem em regiões da Antártica e sub-antártica (como os pingüins de-adélia e antártico) se alimentam preferencialmente de krill e lulas.

Já os pingüins Rei e Imperador se alimentam preferencialmente de peixes e lulas. As espécies que vivem mais ao norte tendem a comer mais peixes. Por exemplo, os pingüins de Magalhães (que vive na costa da Argentina e do Chile) e o de Galápagos (próximo do Equador) alimentam-se de pequenos peixes. O pingüim-de-patas-negras (Spheniscus demersus) vive na costa da África e freqüentemente se alimenta de anchovas e sardinhas.

Os principais predadores destes animais também variam de acordo com a distribuição das espécies e vão desde focas-leopardo na Antártica e leões-marinhos na Nova Zelândia até tubarões nos mares mais tropicais como na África e em Galápagos. Além de serem predados no mar ainda existe a ameaça em terra: ovos e filhotes são presas fáceis para outras aves marinhas como as skuas ou gaivotas-rapineiras, os petréis-gigantes e os gaivotões (na Antártica) ou outras espécies de aves e até mesmo animais como ratos e cachorros nas áreas de reprodução habitadas por seres humanos.

Das 17 espécies de pingüins existentes três aparecem na lista internacional de espécies ameaçadas da União para Conservação Mundial (IUCN), porque suas áreas de ocorrência são restritas e suas populações tiveram redução de mais de 50% nos últimos anos. O pingüim-de-Galápagos é o mais ameaçado pois a sua área de ocorrência é bem pequena (menor que 500 km2 em apenas cinco áreas de ocorrência) e sua população é de cerca de 1.200 indivíduos. A sua probabilidade de extinção é superior a 10% e poderá ocorrer nos próximos 100 anos. As principais causas da redução das populações dos pingüins são:

· Pesca predatória - esta atividade reduz a quantidade de peixes disponíveis para alimentação dos pingüins. Com menos alimento disponível os adultos, na época da reprodução, têm que se afastar mais das pingüineiras para caçar e ficam mais expostos à predadores e outros perigo no mar. Nadando distâncias maiores gastam mais energia e demoram mais para voltar com comida para os filhotes. Isto pode reduzir o crescimento dos filhotes e também o número de sobreviventes no final da reprodução.

· Poluição do ambiente marinho - pode afetar os pingüins de maneira direta ou indireta. Os derrames de óleos nas proximidades das áreas de reprodução e de migração são extremamente agressivos para os pingüins e outras aves. Quando os pingüins se sujam de óleo suas penas perdem a impermeabilidade e o pingüim não consegue mais se manter aquecido. O óleo gruda nas penas e os animais não conseguem se limpar. A grande maioria morre, pois eles não podem mergulhar para se alimentar e nem conseguem manter-se aquecidos.

Poluição por produtos químicos como, por exemplo, inseticidas (poluentes orgânicos persistentes) e metais pesados também podem atingir os pingüins mesmo em ambientes bem remotos. Isto porque os pingüins se alimentam de peixes e são topo de cadeia alimentar. Os níveis de concentração de metais pesados são maiores nos pingüins do que nos peixes (imagine quantos peixes contaminados um pingüim pode comer?). Os contaminantes se acumulam na gordura e dificilmente são eliminados. Altas concentrações de mercúrio, por exemplo, podem fazer com que o ovo produzido pelas fêmeas não seja resistente, tenha a casa muito fina e por isso quebre com facilidade.

· Perda de habitat e alterações no clima - Em algumas regiões a perda de habitat ocorre diretamente pela ocupação humana, em outras as alterações no clima podem mudar as características do ambiente (reduzir a camada de gelo, manter áreas cobertas de neve por mais tempo, aumentar a quantidade de chuva ou reduzir populações de espécies que são consumidas pelos pingüins) ocasionando sempre a redução das populações desta ave. O “El Ninõ” é a principal ameaça para os pingüins de regiões mais tropicais como para o de Galápagos. Este evento climático ocasiona, entre outras coisas, a redução das quantidades de peixes disponíveis para serem consumidos. Qualquer alteração no ambiente marinho e/ou terrestre pode prejudicar, não só as espécies de pingüins, mas o equilíbrio geral do ambiente.

Pingüins amigos da estação Comandante Ferraz Na Baia do Almirantado onde está a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) existem 13 espécies de aves que fazem seus ninhos. Entre elas, três são espécies de pingüins: pingüim-de-adélia (Pygoscelis adeliae), pingüim-antártico (Pygoscelis antarctica) e pingüim-papua (Pygoscelis papua). Em áreas habitadas pelo homem o que mais ameaça os pingüins são as alterações provocadas diretamente no ambiente, principalmente a ocupação dos territórios. A EACF não está próxima das colônias de pingüim e os pesquisadores e militares brasileiros dificilmente chegam perto das pingüineiras. A visita de indivíduos jovens que não começaram a se reproduzir é constante na proximidade da nossa estação. Além disto, alguns indivíduos fazem muda (troca de pena) bem perto da EACF. Curiosamente, alguns utilizam até mesmo o Heliponto da estação para se proteger do vento e de nevascas enquanto estão sem proteção das penas.

Outras estações como a polonesa e norte-americana ficam bem perto dos ninhos destas aves, porém os pesquisadores são muito conscientes e não interferem na vida dos pingüins, limitando-se a se aproximar das colônias para atividades de pesquisa. Apesar de nenhuma das três espécies de pingüins que ocorrem na baia estarem na lista de espécies ameaçadas os pesquisadores já registraram alterações no número de indivíduos que se reproduzem ali. De cerca de 100 mil pingüins registrados no passado hoje existem menos de 25 mil: uma redução de 75% na população das pinguineiras na região. Ainda estão sendo feito estudos para entender o que está acontecendo com estes pingüins, mas alterações no clima e conseqüente perda de habitat e redução na quantidade de alimento disponível estão entre as principais causas apontadas pelos cientistas

· No início das expedições ao Hemisfério Sul, quando os navegadores exploravam pelas primeiras vezes o continente e tentavam chegar ao Pólo sul a situação era muito precária. As embarcações eram lentas e eles não podiam levar muita carga, além disto, não havia conservantes e a tecnologia que conhecemos hoje, então não havia muita comida. Adivinha pra quem sobrava quando estes homens corajosos e famintos chegavam a Antártica? Para os animais que eles encontravam por lá, incluindo as aves e, como conseqüência, os pingüins. Seus ovos eram coletados e consumidos e os pingüins literalmente viravam “churrasquinho”. Tudo era aproveitado: a gordura, a pele, a carne; não sobrava nada. Muitas populações de pingüins foram reduzidas devido a esta atividade humana. Até os anos 80 ainda havia registro de consumo de pingüins por humanos, bem como o uso de suas peles para fazer luvas e bolsas.

· Como os pingüins são aves extremamente adaptadas para a vida no mar quando estão em terra têm certa dificuldade para se deslocar. Eles resolvem isto facilmente quando estão na neve ou no gelo: eles deslizam de barriga, como se estivessem brincando de “tobogã”. Usam as aletas e as patas para se impulsionar. Assim ganham velocidade e percorrem muitos quilômetros como é o caso do pingüm-imperador durante o seu deslocamento para as áreas de reprodução no continente antártico e no retorno para o mar. Fonte de Pesquisa: HSW

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