Resumidamente, a fobia é um medo de alguma coisa deslocado para um medo de outra coisa. É uma angústia relativa a uma situação difícil de se lidar. A mente desloca a angústia dessa situação para uma outra que, aparentemente, não tem nada a ver.
Por exemplo, tem gente que tem pânico de entrar no elevador. Por quê? Elevador é perigoso? Pode até ser, mas não tem gente morrendo o tempo todo por cair de elevador. O medo de elevador, portanto, não é razoável, não é lógico, não é coerente. Por quê essa pessoa tem esse medo? Não tem nada a ver com o elevador propriamente dito. Têm a ver com o espaço fechado, trancado, e com algum outro medo da história psicológica dessa pessoa, do seu desenvolvimento psíquico, relacionado com se sentir fechado, trancado, isolado, desamparado, sozinho.
Este tipo de medo está deslocado para a situação do elevador. Qualquer fobia é sempre assim: um medo que está inserido na história psíquica dessa pessoa, no desenvolvimento psíquico dela, das angústias que ela passou durante o seu desenvolvimento, que a sua mente não conseguiu elaborar. Esse medo está lá, de prontidão. A pessoa precisa eleger um determinado objeto ou situação para responsabilizar por esse medo.
Qual a diferença entre o medo normal e a fobia? O medo é uma reação psicológica e fisiológica normal, em resposta a alguma ameaça ou perigo, ou à antecipação dos mesmos. A fobia é um medo excessivo e irracional, desencadeado pela exposição ou antecipação de determinada situação ou objeto. As pessoas com fobias específicas percebem que seu nível de medo é excessivo, mas mesmo assim evitam qualquer exposição ao objeto/situação temido. Essa hesitação leva a ansiedade, e esses dois fatores causam grande impacto na vida da pessoa.
Existe relação entre fobia e trauma? Existe, em termos leigos, a idéia de que os problemas psicológicos são causados por traumas. Na verdade, não existe bem um trauma, o importante não é pensar numa coisa que aconteceu, mas nas dificuldades que esta pessoa foi tendo no desenvolvimento da sua personalidade para se constituir como sujeito.
Essa série de dificuldades é que vão gerar angústias. E são essas angústias que são passadas para uma determinada situação. Então não dá para pensar em um trauma, mas numa sucessão de traumas, de questões ou de problemas.
As fobias "crescem"? Sabe-se que sim. Existe o caso famoso de Hans, estudado por Freud: a fobia do pequeno Hans. O menino que tinha fobia de cavalo. No início ele tem fobia de cavalos, depois do lugar onde ficam os cavalos, depois a fobia passa para qualquer rua onde talvez possa ser encontrado um cavalo, depois a fobia se estende às carroças carregadas que estão sendo puxadas por cavalos, de tal forma que a fobia vai se estendendo tanto que limita a vida do indivíduo. Chega um ponto em que ele não pode mais sair na rua, não pode mais fazer nada.
Quando é mais comum o surgimento das fobias? Pode-se dizer que no início da infância é comum o aparecimento de algumas fobias. É muito raro encontrar-se uma criança que não passou por uma fobia ou por um período de fobia na infância. Algum tipo de fobia, como por exemplo, fobia de escuro, é muito comum. Quase todas as crianças têm fobia de escuro. Fobia de raio, trovão, tempestade.
É quase normal que uma criança na primeira infância tenha quadros fóbicos, que se resolvem espontaneamente. Na verdade, estas fobias são um jeito que a cabeça da gente arruma para lidar com as angústias, e que a criança está tendo que dar conta. Então, ela tem medo do bicho papão, ou não dorme no escuro de jeito nenhum. São quadros fóbicos quase normais na primeira infância. É que à medida que a criança cresce, deixam de ser significativos, desaparecem e pronto.
Existe prevenção para a fobia? Não há como prevenir a fobia. O que se pode fazer é criar uma estrutura psicológica mais firme. Uma criança criada com mais segurança, com mais amor, mais afeto, amparo, mais protegida adequadamente, porém não de maneira exagerada. Essa criança tem o seu desenvolvimento psicológico mais adequado, estando menos sujeita às fobias do que uma outra criança com uma série de problemas, encrencas, de pais separados e outras questões... Uma insegurança na constituição psicológica é que vai determinar o aparecimento de fobias.
Uma fobia pode surgir na idade adulta? A fobia pode aparecer em qualquer momento da vida do indivíduo. Um sintoma que não tinha antes e, de repente, pode aparecer. O mais comum, desse tipo de aparecimento, é a famosa síndrome do pânico, que também é um quadro que apresenta uma série de fobias, podendo aparecer a qualquer hora. De repente a pessoa começa a ter pânicos e medos.
Existe lugar para o tratamento medicamentoso na fobia? Às vezes, sim, como na síndrome de pânico. Nela, é importante haver o tratamento medicamentoso para controlar as crises. Porém, o tratamento medicamentoso isolado não adianta, porque se deve ajudar a pessoa a desenvolver a capacidade de desassociar seus medos do objeto escolhido. É preciso enriquecer a cabeça da pessoa, para ajudá-la a fazer historinhas, dramatizar mais, para dar conta da angústia. Se você, apenas, tira o sintoma da crise e não ajudar a cabeça a funcionar melhor, com a medicação ela vai acabar desenvolvendo outro tipo de sintoma.
Qual o tempo de tratamento? O tratamento consiste em tentar restabelecer as conexões perdidas. É um tratamento psicoterápico, de duração indeterminada. Você começa a lidar com a questão e poderá lidar alguns meses ou muitos anos, não tem uma regra. Depende tanto da pessoa, como do terapeuta, acharem que tem sentido continuar lidando ou não.
Qual o maior impacto da fobia na vida da pessoa? É o impedimento da vida; as pessoas ficam cerceadas, se trancam no quarto, não saem mais de casa. Esse é o grau máximo, o impedimento de vida. É a pessoa que só sai à rua com uma entidade denominada "acompanhante fóbico". São pessoas que só saem na rua acompanhadas, caso contrário, não conseguem sair para lugar nenhum. Esse é um cerceamento relativo, mas existem casos mais graves. Fonte:boasaude.com
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