O fígado tem a capacidade de destruir o álcool, porque possui enzimas que o transformam em outras substâncias, por exemplo, o acetaldeído. Acontece que, quando o álcool é ingerido em quantidades maiores, começam a aparecer lesões nas células hepáticas. Obviamente, se o indivíduo bebe todos os dias e há muito tempo, a recuperação celular fica mais difícil e o metabolismo do álcool é comprometido.
É óbvio que uma escapada ocasional não provoca grande estrago. Todavia, se a ingestão for freqüente e o volume ingerido maior do que a capacidade do fígado para metabolizar o álcool, as células hepáticas podem ser irremediavelmente destruídas.
O pior é o uso diário de álcool. Já existe uma estimativa de que um indivíduo pode desenvolver cirrose hepática se beber 80 gramas de álcool por dia, durante aproximadamente 10 anos. A mulher, que é mais sensível, corre o mesmo risco com metade dessa dose.
Vamos tomar como exemplo a cerveja, bebida bastante apreciada e consumida no Brasil. Uma garrafa de cerveja tem 600ml. Vamos admitir que cada garrafa tenha 4% de álcool. Logo, três garrafas e meia de cerveja perfazem os oitenta gramas de álcool. Quem bebe essa quantidade todos os dias, durante 10 anos, corre sério risco de desenvolver cirrose. Se considerarmos que o teor alcoólico da pinga, do uísque e da vodca é dez vezes maior do que o da cerveja, dá para imaginar o que acontece. Um copo grande de qualquer uma dessas bebidas corresponde a 64 gramas de álcool, portanto beirando o limite que, na maioria dos casos, leva à cirrose
O grande problema é o conceito, o critério adotado, porque ninguém duvida de que tomar uma caipirinha ou uma cerveja, de vez em quando, é agradável. A coisa complica com a repetição que pode levar à dependência. O indivíduo pode não se embriagar e muitas vezes se gaba de nunca ter ficado bêbado. Também não faz diferença o tipo de bebida escolhido. A cerveja tem, em média, de 4% a 5% de álcool. Algumas chegam a 8%. O vinho tem 12%; licores, de 20% a 25%, mas nada disso importa. O que conta é a quantidade de álcool ingerida diariamente ou quase todos os dias. Por outro lado, se houver predisposição genética, mesmo em quantidades menores o álcool pode provocar cirrose hepática.
Por que na mulher o álcool provoca maiores estragos?Há várias explicações. Uma delas é que, ao entrar na circulação sanguínea, o álcool se distribui inclusive na parte aquosa e esse volume de distribuição, na mulher, é menor. Parece, também, que ele é absorvido com mais intensidade pelo organismo feminino porque a mulher tem menos enzimas capazes de destruí-lo ainda no estômago. De qualquer modo, independentemente do sexo, o problema fica mais grave quando, sem perceber, o indivíduo perde o controle e, dominado pelo álcool, torna-se dependente dessa droga.
Muita gente tem cirrose e os gastos são altos. Isso para não falar na perda da qualidade de vida e no índice de mortalidade. Quem bebe, mesmo que não se considere um alcoólico, sofre danos em seu organismo. O álcool é tóxico e agride o fígado, o pâncreas, o músculo cardíaco e o coração como um todo, o sistema nervoso central, nervos periféricos, glândulas, testículos e assim por diante. As lesões vão surgindo devagarinho e, quando o indivíduo descobre ou é alertado pelo médico, às vezes não consegue mais se libertar da dependência. Alguns doentes, no entanto, conseguem afastar-se da bebida quando descobrem que estão com cirrose.
O assunto é polêmico. Quando se discute o problema principalmente com os psiquiatras, todos são categóricos em afirmar ser perigoso permitir que o alcoólico beba um pouco. Seria como permitir ao fumante, que abandonou o cigarro, dar uma tragadinha. Com o cigarro, isso não existe. Existiria com o álcool?Algumas pessoas conseguem reduzir drasticamente a quantidade de álcool sem parar de uma vez. Não sei precisar números nem porcentagens, mas tenho certeza de que não constituem a maioria. Por isso, o conselho que se dá, nesses casos, é não beber sob nenhum pretexto. O perigo está em tomar uma cervejinha ou um cálice de vinho, perder o controle e voltar a consumir álcool como fazia antes.Se a doença já se instalou, o caso muda de figura. É preciso parar de beber mesmo porque qualquer quantidade de álcool, por menor que seja, pode piorar quadro.
O fígado leva a culpa de todos os exageros que cometemos pela vida afora. A ressaca ou a dificuldade de digestão, comuns quando se come ou bebe demais, em geral, são atribuídas ao mau funcionamento do fígado e não aos excessos praticados.Talvez isso explique a existência, no mercado, de uma quantidade enorme de produtos farmacêuticos que explora certas crendices populares a respeito do fígado. Trata-se de drogas que nunca demonstraram os efeitos hepatoprotetores que seus fabricantes apregoam. Na verdade, não há um único medicamento capaz de “proteger” o fígado. Quando ele dá sinais de sofrimento, na maior parte das vezes, já foi seriamente agredido pela repetição de alguns maus hábitos de vida.
Dentro do fígado não há nervos e, conseqüentemente, ele não dói. Entretanto, a cápsula que o envolve é bastante enervada. Por isso, quando nele se introduz uma agulha para retirar material para biópsia, é preciso anestesiar não só a pele e o músculo entre as costelas, mas também a cápsula. Quando o órgão aumentou muito de volume ou está comprometido por abscesso ou tumoração que comprimem essa cápsula, é ela a responsável pela dor que se instala.
O grande problema do fígado é que as patologias hepáticas são silenciosas. Muitos pacientes que nos procuram estão com cirrose sem terem notado sintoma algum da doença. No entanto, ele produz sinais sugestivos. A icterícia, por exemplo. Esse amarelo que tinge os olhos é um sinal importante, que não deve ser confundido com o amarelo isolado da pele quando se come muita cenoura e mamão, alimentos ricos em caroteno. Importante também é o aparecimento sob a pele de sinais semelhantes a pequenas aranhas formadas pelo cruzamento dos vasos sanguíneos, que recebem o nome sugestivo de spider, e que permitem fechar, com grande margem de segurança, o diagnóstico de cirrose hepática.
O fígado é muito resistente. Inclusive resistente a alimentos. É comum os pacientes com cirrose ou hepatite crônica estranharem que o médico não lhes prescreva uma dieta alimentar, mas ela é absolutamente desnecessária. Na verdade, não é o fígado, mas o estômago, o esôfago, o duodeno ou o intestino que reagem mal à ingestão de alimentos gordurosos ou muito apimentados. O fígado, porém, não tolera álcool nem certas drogas. Fonte de Pesquisa: Drauziovarella.ig.com
Um comentário:
Creio que tudo que seja feito em excesso no nosso organismo é prejudicial, mesmo quando pensamos justamente o contrário. Beber é muito bom, distrai as pessoas, conserva-se amizades, entre outras coisas, mas é preciso que se tenha em mente a moderação, inclusive o bom senso de não dirigir depois de ingerir bebidas alcoólicas.
Ótimo artigo.
Beijão!
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