Dona de seu nariz e de seu tempo, podem chamá-la como quiserem, ela se garante. Ela é: coroa, perua, 'aquela que deu e que dá', mulher, mulherão, mulherzinha, com muita honra.
Isto é fichinha para quem já levou nome de “galinha, piranha, puta , sapatão” depois que se separou e ficou sozinha criando os filhos, recriando a vida e se reconstruindo na incansável busca de achar em outros corpos, outros seres, algo para aplacar a sua solidão ou alguém que a amasse como ela queria e merecia!
Jornada tripla de trabalho no dia a dia. Jornada eterna de uma pessoa ainda tonta pelas perdas tantas, pelos muitos erros, pelas infatigáveis tentativas de reencontrar-se contando apenas consigo com sua força e coragem. Foi ela quem lavou, passou, cozinhou, fez doces, salgados, sabão em barras e detergente; vendeu batom e perfume, deu aulas particulares, fez trabalhos escolares para alunos preguiçosos e “ricos”, escreveu em jornais, chegou até à TV, fez de tudo para sobreviver dignamente sem perder o auto-respeito e o dos filhos. Curou machucados, febres lhe roubaram noites, reuniões de colégios e dentistas que endireitavam dentes tortos das crias que pariu com dor e gozo.
A cada rótulo, a cada apelido, ela respondia com silêncio e trabalho. Nem sentia o peso, apenas carregava o seu fardo com o nariz e a bunda empinados. Segundo sua mãe, mulher de fibra e fé, a cada um cabe levar a própria cruz ao seu Calvário. E fé foi o que não lhe faltou!Houveram momentos de desânimo e dor e quando pensava em desistir... era hora de “botar o feijão no fogo outra vez”. Muitas vezes chorou e se sentiu injustiçada numa sociedade onde só o homem tinha valor. O homem podia tudo! E ela, rebelde, inconformada, também queria...
Nem sabe dizer quantos papéis desempenhou! Sem nenhuma expectativa de receber algum prêmio, apenas movida pela necessidade e esperança. Centenas de vezes quebrou a cara e recomeçou. Era também por ela e para ela que o fazia.
E sem o perceber para milhões de outras mulheres mundo afora em igual condição. O que era, ela bem sabia, era mais uma Maria, como tantas, brava, combativa, guerreira. Hoje já não possui o viço da juventude, sua pele ficou flácida, engordou, as mãos tem calos e manchas, os cabelos tem que ser retocados com tinta a cada quinze dias e a tecnologia cosmética, benzadeus, refaz “quase tudo” que o tempo desfez. Ela se sabe bonita, alegre, bem humorada e seus olhos brilham quando fala em amor!
Desejos e sonhos não lhe faltam! Ela sabe que está apenas no meio da viagem e que agora tudo começa a se repetir, sem correria, sem pressa, com mais certezas e menos riscos de enganos. Sabe-se incompleta e ainda tem muito o que fazer. Porque descobriu que o prazer está no percurso!É dona de seu nariz e de seu tempo, podem chamá-la como quiserem , ela se garante. Paga suas contas, tem RG, CPF, declara renda anualmente. Pouco importa, ela é: coroa, perua, “aquela que deu e que dá”, mulher, mulherão, mulherzinha, com muita honra, sim senhor! Fonte de pesquisa: UOL.com.
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